segunda-feira, 20 de junho de 2011

99 não é 100.

Acabei de assisti o documentário "Lixo Extraordinário". Primeiro, tenho que ressaltar que não tinha a menor pretensão de um dia assistir esse documentário. Hoje foi o último dia de aula para o recesso de São João e o professor da primeira aula faltou sendo substituído por outro. E esse outro professor, resolveu passar o documentário mesmo que não desse tempo para assistir tudo(somente tínhamos 1:15). E isso mudou(nem que seja por um dia) minha visão sobre um segmento da sociedade.
Senti vergonha de mim mesma por não ter cogitado assistir esse filme. Porque ele é muito bom. O caráter humanista e a humildade te surpreeendem. E é triste observar, lendo algumas críticas, que algumas pessoas enxergam nuances negativas.
Dane-se o dinheiro e tudo o que tiver envolvido com isso, trata-se do essencial. E se não perceber o essencial  nesse tempo nada terá valido a pena. Em um dado momento, quando os personagens principais que são os catadores, decidem não voltar para a vida de antes, a esposa de Vik Muniz questiona a presença de Vik, Fabio e seus diretores na vida daquelas pessoas, visto que elas não querem mais voltar para lá e a equipe um dia iriam voltar para NY e tudo "voltaria ao normal". A pergunta dele diante dessa dúvida da esposa me supreendeu: Qual é o problema de mudar a vida dessas pessoas para sempre? E eu quase quis dizer em coro: é... qual é o problema?
Não há problema nenhum. É essa iniciativa transformadora que falta aos brasileiros. Muitos falam da exploração desses personagens pela equipe do artista Vik, mas eu discordo. Mostra-se claro no fim do filme que algo mudou e transformou a vida e a visão para vida daquelas pessoas. E só a mudança disso, terá valido a pena. É que muitos se apegam a esse detalhe e nada fazem para mudar a realidade nem que seja um pouquinho. Então criticar sem mudar o meio em que vive torna-se uma injustiça.
Eu não tenho esse direito, porque (como em um dado momento do documentário alguns dos catadores falaram) o que faço é separar o lixo, e jogar sempre na lixeira. A pergunta que não cala é: Para onde vai o lixo?
O personagem mais interessante para mim é Valter. O senhor de idade trabalhou 26 anos no Jardim Gramacho e como bem ressalta na sua apresentação não tem escolaridade nenhuma. E daí, o telespectador é pego de surpresa com a sua alta visão de consciência ambiental. É o famoso autor da frase 99 não é 100, para aqueles que dizem: mas é apenas uma latinha! Esse senhor, morreu pouco depois de conhecer Vik, de câncer de pulmão. E a sua presença no mundo(mudou a vida das pessoas que viveram ao seu redor) e também de nós meros telespectadores, que tivemos a oportunidade de conhecê-lo um pouco nesse documentário.
Cada minuto desse filme vale a pena. Cada minuto mesmo. É que essa é uma realidade brasileira, e nós que somo mais privilegiados, "esquecemos" de olhar para cada um deles. É uma pena, porque se ouve tanto o discurso de reciclar o lixo, e não se fala em reciclar vidas. Um filme sobre arte, mas que mostra o poder transformador da própria na vida das pessoas. Tanto naqueles catadores de lixo, quanto nós que fomos presenciados com essa verdadeira obra-prima que é a humanidade.
Aliás é importante ressaltar que a arte de Vik Muniz é inspiradora. E eu como pessoa que tem acesso "a tudo" senti-me angustiada com o fato de pouco saber sobre os brasileiros notáveis que existem tanto aqui, quanto Brasil afora.
Respondendo a pergunta de Vik Muniz ao contrapor a sua mulher: Não, não há problema nenhum. Mudar, quando todas as coisas nadam contra a correnteza, é necessário. Temos de nos tornar a mudança que queremos ver, e com certeza a visão do país que temos hoje, não é nada agradável.